
Há ali qualquer coisa no ar que nos chama para casa.
Sente-se isso no preciso instante em que nos damos conta de que nos estamos a aproximar.
Primeiro o vale. Verde. Confiante, vaidoso, até. Aberto. Quase que se lhe adivinham dois braços em posição de acolhimento.. Isso..um vale com (a)braços..
Depois o silêncio do sossego. O barulho mudo do ar a acompanhar os passos…O silêncio a aumentar à medida que nos aproximamos. As placas a indicarem que o caminho é mesmo em frente. Taizé. Quase nem eram precisas!.. Fareja-se, fechando os olhos e abrindo o coração. Descobria-se assim muito bem o caminho! Como se sempre o soubéssemos, como se já lá tivéssemos estado. Como se fosse um regressar a casa. Um regressar a casa…
Há ali qualquer coisa no ar que nos chama para casa.
Depois o topo da colina. Encontra-se muitas pessoas. Estão todas para entrar.
Percebe-se que estão muito sintonizadas. Não nos fixamos tanto nas suas caras como nos seus corações. Noto que os corações é que caminham. Em linha, como notas musicais na pauta. Os corações lá sabem! Sabem muito bem que vão ali dentro cantar. Cantar ou rezar. Que rezar é cantar para os ouvidos de Deus.
De súbito..um som ecoa. O silêncio esconde-se agora atrás dos sinos a chamar. Entra-se.
O que se sentia do lado de fora, continua a sentir-se lá dentro. A partilha estampada nas intenções. O despojamento, a quietude, mesmo entre milhares. Não são particularmente as pessoas que se encontram. São os olhos, os motivos, os tons, as almas, os respeitos, os sorrisos. Os visíveis e os invisíveis, leia-se!
Focamos entretanto a cor avermelhada do templo, a timidez das velas, a simplicidade do momento. Há sempre alguém que se ajeita um pouquinho para nos dar algum chão onde sentar. A entrega plena dos irmãos, lá ao fundo, vestidos de branco, pode fazer-nos estremecer. A oração também! Os cânticos pegam-nos pela mão e unem-nos num bailado impar. Não somos portugueses, nem franceses, nem italianos, nem russos, nem africanos, nem…
Somos notas musicais em pauta, unidos pela mesma clave de sol. De Luz! De Amor. De Deus. Isso.. uma clave de Deus..pudera eu atribuir-lhe esse nome..
O sentimento foi muito especial. Era Sexta-feira Santa. Eu tinha o coração sintonizado.
Que mais te posso falar, AVC ?
Que estava uma noite serena no vale. E no coração. Que essa Paz se sente ainda agora.
Que é aquela Paz que se sente quando sabemos que estamos a chegar a casa.
E que há ali qualquer coisa no ar que nos chama para casa.