Saturday, December 30, 2006

O que vou fazer (d)este ano


"Às vezes sonho que estou num balão de ar quente a sobrevoar o oceano. Então, de súbito, sucede uma falha qualquer e começo a perder altura. Para que o balão volte a subir, e eu alcance terra firme, terei de lançar, borda fora, o máximo de lastro possível.

Primeiro desfaço-me da carteira, a seguir da comida, da roupa (mas não dos sapatos), das pulseiras e anéis e só depois atiro fora os livros e os discos.

Lembrei-me do sonho do balão enquanto, nos primeiros segundos deste novo ano, trincava as passas propiciatórias e formulava desejos. Compreendi, de repente, que depois de lançar borda fora tudo aquilo que poderia impedir o balão de ascender, ainda assim, não perderia o essencial. O essencial não tem peso: o amor, a saúde, ou o saber. Aquilo que peço, afinal, para não perder, ou para alcançar, enquanto trinco as primeiras passas.

Eu sei – já posso ouvir até as vozes trocistas -, que isto parece a alegoria singela de um manual de auto-ajuda. Bem, o que querem?, hoje sinto-me propensa a alegorias singelas.

Aliás, proponho-vos outra: continuamos no balão e ele, oh desgraça!, insiste em perder altura. Se as memórias tivessem peso quais seriam aquelas que primeiro lançariam ao abismo? Quais seriam aquelas de que nunca se separariam ?

No meu caso concluo que mais facilmente deitaria fora o passado recente, mesmo as tardes de sol, do que as recordações que guardo da minha infância perdida – incluindo os dias chuvosos. Fui mais feliz nesse tempo? Não sei. Fui feliz de uma forma mais inteira, creio, porque não existia futuro e tão pouco me doía o passado. (...) Sinto, por outro lado, que o essencial da minha personalidade foi moldado nesses dias. Perdê-los seria perder-me de mim. Por isso escolho a infância. Há outras memórias que não quero, ou não posso perder: o meu primeiro beijo; a minha primeira noite no deserto; a madrugada em que o velho Samir, o meu avô paterno, me mostrou o sol a nascer em Anjuna.

A ideia de recomeço, que é o que nos propomos ao festejar o Ano Novo, sempre me pareceu feliz. Evidentemente, não se recomeça nada, continua-se, o mais que podemos é seguir por caminhos diferentes. Também pensei nisso enquanto trincava as passas. Não quero para este novo ano uma vida nova. Esta fica-me bem. Também não peço nada que seja preciso declarar na Alfândega. Dai-me, Senhor, somente o imponderável. O resto deixai comigo. Não sei o que se passa com a maioria das pessoas mas comigo são sempre mais passas que os desejos. Não faz mal. Eu gosto de passas. "
da Faíza Hayat

Friday, December 29, 2006

uma canção para vós!



Era uma canção muito bonita. O coro cantava-a assim:

Como me sinto feliz, feliz
Deus está em mim, está no meu país.

Já é Natal (É Natal, é Jesus !)
Nasceu jesus ! (Sim, nasceu! Sim, nasceu!)
Encheu-se o ar de amor (amor, amor, amor) (bis)

Já não há trevas, nem frio assim
Deus fez-se Verbo, há calor em mim!



Sunday, December 24, 2006


Duas tábuas
e era um berço;
Tudo escuro,
e alumiava.
Estaria Jesus lá dentro?
Fomos a ver..
...e lá estava!


Pedro Homem de Melo
......
E que sempre esteja Jesus em cada um de nós,
todos os dias deste novo ano adentro!
Feliz, feliz Natal
Cheio de Luz
com o menino Jesus!

Tuesday, December 19, 2006

Ser agradecido por tudo.


Matthew Henry é um famoso comentarista da Bíblia. Certo dia, ele foi assaltado e, naquela noite, fez a seguinte anotação no seu Diário:

"Deus meu, estou agradecido:
primeiro, porque nunca fui roubado antes;
segundo, porque apesar de terem levado a minha carteira, eles não me tiraram a vida;
terceiro, porque, apesar de terem levado tudo o que lá tinha, não perdi muita coisa;
e quarto, porque fui roubado; não fui eu que roubei."

Matthew Henry

.......

Fiquei a pensar...
Neste Natal, neste tempo de advento, de espera, de renovação, de renascimento, vai saber-nos bem olhar para trás e acolher, em jeito de Acção de Graças, tudo aquilo que nos foi dado a viver.
Procurando, como Matthew, o BEM e o BOM em cada uma das nossas vivências.
Conseguimos?

Sunday, December 17, 2006

Alegria


meus amigos viajantes,
desejo-vos uma alegre viagem
por esta 3ª semana de Advento adentro!
...
Que contentamento esse,
o de nos podermos
transformar em Meios de Transporte,
nas nossas relações com os outros.
Isso mesmo:
em veículos, que levam e trazem Deus
...
Façamos então essas viagens,
contentes!

Saturday, December 16, 2006

A bolinha azul

Pediu-me a Malu que apanhasse esta bolinha azul.
Que a segurasse um pouquinho nas minhas mãos
e que brincasse com Jesus,
cantando, continuando e depois passando aos outros esta canção:
...
Há uma estrela no Céu
A brilhar o meu caminho:
Jesus Cristo que nasceu
Num lugar tão pobrezinho.
...
Esta pequena bola azul
Vai tomar o seu lugar
Levar-nos a Norte ou a Sul
Onde O formos encontrar!
...
De Blog em Blog vai passar
Levando consigo esta canção
Para cada um lhe juntar
Um pedaço do seu coração.
...
Xana, agora é contigo
Que Jesus quer brincar,
Apanha a bola, vou-ta chutar
...
Cá vamos então, malu,
contentes e sorridentes,
eis aqui
e para ti,
a minha parte:
Que bom é dizer:”Jesus,
Contigo eu quero brincar!”
Dás-me tanto Dessa Luz,
estendo as mãos pr’á agarrar!”

Que bom é depois passar
Essa Luz a um amigo
e dizer-lhe, a cantar,
“Toma, Jesus tá contigo!”

Vejo amigos em redor
tão importantes pr’a mim
"Vou passar-Te, meu Senhor
para o Bom Joaquim.

Que bom é passar-Te assim
E Tu sorris, adoras isto! "
Abre os braços, Joaquim,
sente Aquele abraço em Cristo!

...

REFRÃO: Este blog temUma bolinha azul
ó tem, tem, tem.....

Sunday, December 10, 2006

O Escolhido


Todas as vezes que fico decepcionada com o que me acontece nesta vida, paro e penso no pequeno Jamie Scott. Jamie estava a tentar conseguir um papel na peça da escola. A mãe dele contou-me que ele se tinha dedicado de todo o coração àquela tarefa, mas ela receava que o filho não fosse escolhido. No dia marcado para a distribuição dos papeis, fui com ela buscar o Jamie após as aulas.
Jamie correu para a mãe, com os olhos brilhando, cheios de orgulho e euforia.
-“Mãe, mãe!! Sabes o que aconteceu ?” – ele gritou, animado, proferindo em seguida estas palavras que até hoje me servem de lição: “Fui escolhido! Fui escolhido para bater palmas e dar vivas!”

Marie Curling contou esta história.
Nunca deixa de me surpreender.

Sunday, December 03, 2006

Estou?


Há uns dias atrás, lembrava-me o Joaquim Mexia da palavra “Estou?” que muitas vezes dizemos quando atendemos o telefone.

Fiquei a pensar….
Quanta profundidade encerra uma só palavra: ESTOU.
Dizê-lo a alguém, é revelar que nos fazemos presentes, que nos entregamos, que nos colocamos à sua vontade e serviço. Dizer “ESTOU ?” é uma palavra simples e humilde. Uma daquelas aparentemente insignificantes, mas que nesse instante nos abre e nos desperta para a plenitude daquilo que pode ser o nosso contacto com o outro. Aquele alguém que nos chama.
E essa humildade, reparo agora, lê-se, não só na quietude e na simplicidade do verbo ESTAR, como também no modo como o usamos: antes de um ponto de interrogação. Eu explico. Nem se quer afirmamos que estamos. Mas antes, como que primeiro perguntamos, se, de facto, podemos SER úteis, se alguém do outro lado precisa que ESTEJAMOS aqui para si.
Uma entrega, eu diria. Como um “Olá, eu entrego-me a ti e àquilo que tu me queres pedir ou contar. ESTOU a ouvir. ESTOU à tua espera. Eu agora SOU e ESTOU aqui para ti. Como te posso eu SERVIR?”

Nem sempre pensamos nisto.
Na ligeireza do curso de palavras e gestos que correm pelos nossos dias, ficamos muitas vezes apenas à superfície das coisas mais simples. Como se, à beira de um rio, querendo lavar o rosto, pegássemos com as nossas mãos em concha numa tímida porção de água e a levássemos à face. E pronto. Já está.
Só que às vezes, e só para sentir e provar, é bom mergulhar o rosto, por inteiro, em toda a profundidade que o rio nos oferta. Reparar como é diferente quando tudo nos envolve, quando não apenas ouvimos os sons das palavras, mas também, e sobretudo, quando escutamos os seus silêncios.
Aquilo que elas encerram, portanto.

Monday, November 27, 2006

A Presença Divina


Quando um dervixe saúda a outro, ele não diz "Como estás?"
O dervixe faz uma leve reverência e logo diz: "que maravilhoso ver a Deus manifesto em teus olhos!"
Logo, o segundo dervixe poderia responder: "Ah! Se não fora pelo Amor em teu coração, não seria possível a você ver a Deus em meus olhos."
Ah! Poderia dizer de novo o primeiro dervixe "porém se não fora pelo Amor Divino, mostrado através de ti, não seria possível para ti dizer o que disseste, que o Amor estava mostrando-se no meu coração."
Ah! poderia dizer o segundo dervixe "se não fora pela Presença Divina não poderíamos ser conscientes um do outro."
Eles logo se abraçariam e seguiriam seus caminhos.
A Presença Divina está sempre, em todo o lugar, ao mesmo tempo. Assim tem sido sempre e assim sempre será.Nada se perde no Absoluto, está sempre ali.
Trecho de "Passos Até a Liberdade", de Reshad Feild.

Tuesday, November 21, 2006


O Amor
é a única força
capaz de transformar
um inimigo em amigo.
________
Martin Luther King

Monday, November 13, 2006

Escolhe o tema


Escolhe um disco antigo. Selecciona um tema que já há muito tempo não escutas. Coloca-o na aparelhagem. Faz PLAY.
Senta-te à chinês. Fecha os olhos e os ouvidos ao barulho do mundo. Sintoniza-os somente para o canal desse tema que agora escutas. Ouve os sons. Ouve, sentindo-os. E escuta também o silêncio entre eles.
Deixa que as palavras entrem em ti, pela porta aberta do teu coração. Dá-lhes espaço, deixa que elas bailem numa dança de roda de Paz…
Poisa as tuas mãos abertas no teu colo e deixa que para dentro delas, carinhosamente caiam as palavras. Depois, serenamente, pensa nas pessoas que tanto gostas e dedica-lhes essas palavras, esses sons, essa mensagem. Ergue as tuas mãos ao nível da boca e sopra as palavras. Envia-as a essas pessoas queridas, com um sopro profundo do teu coração, desejando-lhes uma boa semana.
Pensa agora naqueles de quem tens maior dificuldade em gostar e dedica-lhes, também a esses, os sons que tão profundamente estás a escutar. Permite que essas palavras, esses tons, desbravem um caminho maior para a Paz e deseja-lhes igualmente um bom início de semana.
Por esta altura, acredita: Já não é bem o cd que está a tocar: és tu! É a música do ser mais autêntico, profundo e harmonioso que habita dentro de ti!
É....
Pois é...
Há temas na nossa vida, sons e tons bem dentro de nós mesmos, que se encontram há já tanto tempo em stop ou em pausa...
E que interessa fazer Play!

Thursday, November 02, 2006


"Os seres humanos são anjos de uma só asa;
Só conseguem voar quando estão abraçados."
Neo Buscarle

Saturday, October 28, 2006

O conto da Chave da felicidade


Deus sentia-se muito só. Para superar a Sua solidão, tinha criado uns seres com asas, que Lhe faziam companhia. Mas esses seres sobrenaturais encontraram a chave da felicidade e fundiram-se com o Divino, que voltou a ficar só. Uno mas só. Reflectiu demoradamente. Era Deus, mas não queria estar sozinho. Pensou que tinha chegado o momento de criar o ser humano, mas intuiu que este poderia encontrar a chave da felicidade e que assim facilmente descobriria o caminho até Ele e com Ele se fundiria. Não, não queria ficar só outra vez. Perguntou-Se onde poderia Ele esconder a chave da felicidade …
Primeiro pensou ocultá-la no fundo do oceano, depois numa caverna nos Himalaias, depois noutra galáxia. Mas estes lugares não o satisfaziam. Passou a noite em claro, questionando-Se onde seria o lugar mais seguro para a guardar.. Sabia que o ser humano acabaria por descer ao oceano mais abismal e que a chave não estaria segura aí. Também não estaria segura numa gruta nos Himalaias porque, mais cedo ou mais tarde, o Homem escalaria até aos cumes mais elevados e encontrá-la-ia. Nem sempre estaria segura noutra galáxia, já que o Homem chegaria a explorar os vastos universos.
Ao amanhecer, continuava a perguntar-Se onde a poderia depositar. E quando o sol começava a desvanecer a bruma matutina com os seus raios, de súbito ocorreu-Lhe um lugar, no qual os seres humanos nunca a procurariam: dentro deles mesmos !!
Criou então o ser humano e, no seu interior, colocou a chave da felicidade!

Ramiro Calle,
in “Os melhores contos espirituais do oriente” (um pouco adaptado..)

Fiquei a pensar....
Não deve ter sido exactamente assim.. isso de Deus nos querer ter ocultado a chave da felicidade... creio até que Ele encontrou a melhor maneira de a entregar. Colocou-a bem transparentemente à nossa disposição! E foi uma grande ideia: O lugar por Ele escolhido é sublime, é óbvio e não podia ser mais acessível!
Agora... que o ser humano tem dificulade em encontrar essa chave... ai isso é um facto!
Lá isso é!! ;)))

Monday, October 23, 2006

sonhos...

Olá, meu querido viajante!
Não fiques aí à chuva!
Entra, toca a entrar...
...
O outono, novamente este ano,
deixou-me muitas abóboras à porta!
Fiz papas e sonhos!
Juntemo-nos todos! Sentemo-nos à mesa...
que é hora de pedir e de dar!
E tu, que sonhos podes tu partilhar?!

Monday, October 16, 2006

Percepção


Quando olhamos para um iceberg, só conseguimos ver
uma pequena porção, mas sabemos que a maior parte
do seu volume permanece submersa.
Da mesma forma, quando entramos em contacto com as
pessoas, experimentamos apenas somente uma face da sua
personalidade, a totalidade permanece invisível.
Percepção é a capacidade de ver o que está além da forma,
entender o sentimento que acompanha as palavras,
captar a linguagem silenciosa do olhar.
Fernando Luís

Por isso, fiquei eu aqui a pensar, vale a pena, nas relações que vamos mantendo com os outros, lembrarmo-nos de que não sabemos tudo, de que não há apenas uma verdade, não há somente uma linguagem. Compreender verdadeiramente uma pessoa é um mundo infinito de percepções. Implica, diria eu, escutar para além das palavras e dos sons. Dos gestos. Alcançar todas estas camadas, sim, mas também, deixando a superfície, mergulhar para a profundidade das suas verdadeiras motivações e então... verdadeira e profundamente escutar.

Tuesday, October 10, 2006

O sentido dos gansos




" No outono, quando se vêem bandos de gansos voando, formando um grande V no céu, indaga-se o porquê de voarem desta forma. Sabe-se que quando cada ave bate as asas, move o ar para cima, ajudando a sustentar a ave imediatamente atrás. Ao voar em forma de V, o bando beneficia de muito mais força de vôo do que uma ave voando sozinha.

Sempre que um ganso sai do bando, sente subitamente o esforço e a resistência necessários para continuar a voar sozinho. Rapidamente, ele entra outra vez em formação para aproveitar o deslocamento de ar provocado pela ave que voa imediatamente à sua frente.

Quando o ganso líder se cansa, ele muda de posição dentro da formação e outro ganso assume a liderança.

Finalmente quando um ganso fica doente ou é ferido por um tiro e cai, dois gansos saem de formação e acompanham-no para o ajudar e proteger. Ficam com ele até que consiga voar novamente ou morra. Só então levantam vôo sozinhos ou em outra formação, a fim de alcançarem o seu bando.

Quando temos o sentido dos gansos também ficamos um ao lado do outro assim. "

("O sentido dos gansos", autor desconhecido)

Wednesday, September 27, 2006


Ainda há pouco escutei na rádio.
Era mais ou menos assim:

"É bom dar a nossa mão a alguém que amamos. Sentir a pele. A temperatura, a firmeza do carinho no toque."

A citação referia-se às mãos daqueles a quem mais amamos. Eu, porém, ousaria atrever-me a modificar um bocadinho deste texto e assim, vos escreveria: é bom dar a nossa mão mesmo àquele que desconhecemos ou de quem não gostamos particularmente. Experimentar esse toque, saboreando-o, num cumprimento cordial, num agradecimento, num simples gesto gentil.
E deixar que a mão fale. Como que a dizer ao outro, "olha, eu estou aqui. Tu e eu somos iguais. Somos pele e somos alma. Somos irmãos. Sejamos amigos. Conta comigo."

Wednesday, September 20, 2006


O Amor é um Templo !

Monday, September 11, 2006


Quem olha para fora, sonha.
Quem olha para dentro, desperta.


Carl Jung

Monday, September 04, 2006

"Aqueles que passam por nós não vão sós,
e não nos deixam sós :
Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós."
Felipe Cortelline Roque

Friday, August 25, 2006

As mãos


As mãos servem para muitas coisas e podem,
de facto, fazer mundos sem fim.
E, de tanto que com elas podemos fazer,
algo há que é profundamente bom:
- é dá-las!

Thursday, August 17, 2006


A viagem mais importante é aquela
que se faz para o interior de si mesmo.

Saturday, August 12, 2006





CITANDO KAHLIL GIBRAN...

Aprendi o silêncio com os tagarelas;
a tolerância com os intolerantes
e bondade com os maldosos.
Não devo ser ingrato com esses professores.

Tuesday, August 08, 2006


Alguém disse : "Felicidade é uma viagem, não um destino".

Imagina. E se a vida fosse uma viagem de comboio?
Entrámos em determinado momento e vamos seguindo, mais ou menos conscientes da passagem das estações do lado de lá do vidro. Muitos de nós tendem a ir adiando a felicidade, concentrando-se num destino específico, sonhando : "Faltam-me três estações e depois é que é! ", o que, traduzindo para a linguagem real, significa mais ou menos isto:" Quando os filhos crescerem e a casa estiver paga, eu irei finalmente voltar a estudar! Quando acabar a época de maior azáfama no emprego, finalmente começarei a dedicar-me ao meu hobby." E por aí fora.... E tendemos a desejar a passagem rápida das estações "da nossa viagem", sem olhar para elas com a calma profunda do coração. Olhá-las. Aceitá-las. E sobretudo, vivê-las. Procurar as pequenas felicidades em cada uma delas, aprender a retirar cada bom momento e saboreá-lo. Aprender a contornar o que nos é possível contornar e a fortalecer em nós o que precisa ser fortalecido, reorganizando-nos, a cada novo ensinamento.
Agora concentremo-nos um pouco no lado de cá da janela:
Aqui e acolá vão entrando pessoas na nossa carruagem. Umas sempre lá estiveram e nem tinhamos reparado. Como são encantadoras... Outras não parecem... Mas vale a pena abeirar-mo-nos delas.. e tentar descobrir.. o que existirá, por detrás daquela expressão sisuda, que eu ainda não conheço e que me fará gostar um pouco mais da sua alma?
Muitas vão apeando. Ou porque querem, ou porque de repente termina para elas a viagem. Vamos assim perdendo de vista tantas, e dói, oh se dói, quando as amamos.
E se a vida for mesmo uma viagem de comboio? Já pensaste?
Vale a pena ver em cada estação a nossa grande meta, afinal.
E reconhecer em cada uma delas, que o nosso destino é, essencialmente, ser e fazer feliz. Ou melhor, fazer feliz e por isso ser feliz!
E essa é a viagem!

Wednesday, August 02, 2006


O Homem Branco desenhou um pequeno círculo na areia e disse ao Índio : “Isto é o que o Índio sabe.” E, desenhando um círculo maior à volta do pequeno círculo que fizera minutos atrás, disse: “ E isto é o que o Homem Branco sabe!”
O Índio pegou numa vara e desenhou com ela uma grande circunferência à volta de ambos os círculos já feitos e respondeu: “E isto é onde o Homem Branco e o Índio não sabem nada.”

_________________________________________________________
Sempre me encantou esta histórinha. É de Carl Sandburg, em The People, Yes.
E deixei-me aqui a pensar… o que será que eu gosto assim tanto nela?

Gosto da humildade do Índio. Da grandeza da sua pequenez. Do reconhecimento de que o universo que nos envolve é uma imensidão de mistérios ainda tanto a descobrir. Gosto de ver o modo como juntou os dois personagens num mesmo espaço, ao invés de os separar, como fizera o Homem Branco. Isso. Gosto do modo simples como os junta, lado a lado, como que ... se dentro das suas ínfimas alteridades, algo de superior a eles os unisse e os tornasse iguais. Quer dizer: diferentes, mas igualmente importantes. Melhor ainda: igualmente chamados a se preencherem, a desvendarem o grande mistério dessa grande roda comum que a todos envolve. A vida.

Monday, July 24, 2006


“Numa noite escura e fria, alguns porcos-espinhos descobrem que encostando-se uns aos outros têm menos frio. Aproximam-se cada vez mais mas.. Ai! Ui!- como são porcos-espinhos, acabam por se picar mutuamente.
Espantados, afastam-se. Ora, quando se separam, voltam a sentir frio e lamentam-se por terem deixado o calor, mas também receiam picar-se novamente. Passado algum tempo e vencido o medo, voltam a juntar-se. E novamente a picar-se.
Apesar de tudo, aguentam-se assim, durante algum tempo até que descobrem que, se se mantiverem próximos a determinada distância, conseguem transmitir reciprocamente calor, sem se ferir.”
Encontrei esta história
e trouxe-a para vocês aqui.
Oxalá gostem.
Eu gostei logo, quando a li.
Desconheço o autor.
Um abraço a todos.

Monday, July 17, 2006

Gosto de...


Gosto das copas dos pinheiros a dançar a música do vento.
Gosto dos sons e dos tons das madrugadas.
Gosto da poesia da vida.
Gosto de amar.
Gosto do cheiro a pão quentinho que sai do forno e corre pela casa.
Gosto do cheiro do café.
Gosto da magia do natal.
Gosto de escutar os corações.
Gosto dos bancos de jardim.
Gosto quando se reunem as pessoas em redor e de alguma qualquer forma,
se partilhe o amor.

E tu, viajante, que me lês?
se alguém te perguntasse...pensa um pouquinho..
E tu? Tu gostas de quê?

Wednesday, July 12, 2006

pensamento





" Eu vou aonde me leva o meu pensamento.
Talvez chegue à paz do meu coração."


diz-nos Drzic , Dzore.

Monday, July 10, 2006

Todos temos duas almas


" Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro... Espantem-se à vontade, podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objecto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a alma exterior de uma pessoa; - e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, um tambor, etc.
Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira. (...)
Agora, é preciso saber que a alma exterior não é sempre a mesma... - Não? - Não, senhor; muda de natureza e de estado. Não aludo a certas almas absorventes, como a pátria, com a qual disse o Camões que morria, e o poder, que foi a alma exterior de César e de Cromwell. São almas enérgicas e exclusivas; mas há outras, embora enérgicas, de natureza mudável. Há cavalheiros, por exemplo, cuja alma exterior, nos primeiros anos, foi um chocalho ou um cavalinho de pau, e mais tarde uma provedoria de irmandade, suponhamos. "

disse-nos Machado de Assis, in 'O Espelho'

Friday, July 07, 2006

obrigada, alma de malu


De ternura
a alma é pura.
De tanto ser amor,ela é doçura.
E, se a dou, a ti, em compaixão,
se não é tua, ela é de quem?
Não sei bem..
Por vezes, minha, também já não..
É nómada,
toda alma é uma brisa errante..
A Grande Alma
não conhece tristeza, repudia-a.
De noite faz-se dia;
voa em suspiros, calma,
e nada a tem presa...
canta hinos à Aurora,
a toda a obra do Senhor.
Não se perde
nem demora
por vias,
que não de Amor!
...
poema feito a duas mãos..
por duas almas que conversam uma com a outra,
bailando com as palavras,
brincando com elas,
cuidando.
As duas pessoas não se conhecem
mas as duas almas não precisam..
elas lá se vão encontrando.
As almas encontram-se assim !
Por aí!
Obrigada, alma da malu.

Sunday, July 02, 2006

A Alma


De repente, olhei para a palavra alma.
Fiquei algum tempo a pensar.
Olhei-a pela frente. De lado.
Depois virei-a, para a ver sob os seus vários ângulos e perspectivas..
E continuei a pensar.
Trouxe-a para aqui, para que a vejam comigo.
E trouxe com ela mais algumas palavras. Sobre ela. Sobre a alma.


"Numa das acepções da palavra, é obviamente necessário, como o oráculo grego afirmava, conhecermo-nos a nós próprios. É a primeira realização do conhecimento. Mas reconhecer que a alma de um homem é incognoscível é a maior proeza da sabedoria. O derradeiro mistério somos nós próprios. Depois de termos pesado o Sol e medido os passos da Lua e delineado minuciosamente os sete céus, estrela a estrela, restamos ainda nós próprios. Quem poderá calcular a órbita da sua própria alma?"
...
Oscar Wilde, in 'De Profundis'

Thursday, June 29, 2006



Ao olharmos para tudo o que não possuímos, costumamos pensar:
'Como seria se fosse meu?',
e dessa maneira tornamo-nos conscientes da privação.
Em vez disso, diante do que possuímos, deveríamos pensar frequentemente:
'Como seria se eu o perdesse?'
Arthur Schopenhauer, in 'A Arte de Ser Feliz'
...
não se valorizaria assim mais o que se tem?!

Saturday, June 24, 2006

A Sabedoria da Calma

A Sabedoria da Calma

" Aquele que mantém a calma diante de todas as adversidades da vida mostra simplesmente ter conhecimento de quão imensos e múltiplos são os seus possíveis males, motivo pelo qual ele considera o mal presente uma parte muito pequena daquilo que lhe poderia advir: e, inversamente, quem sabe desse facto e reflecte sobre ele nunca perderá a calma. "
deixou-nos Arthur Schopenhauer, in 'A Arte de Ser Feliz'

Wednesday, June 14, 2006

Hoje há chá!


Há chá para todos. Sirvo-vos eu.
A saborear ...como se saboreia cada bom momento...

Thursday, June 08, 2006

dois cães..



Este texto é de um autor desconhecido, que trata das reflexões de um índio:

"Dentro de mim há dois cães.
Um deles é perverso e mau, o outro é bom.
O cão perverso luta com o bom cão todo o tempo."

Quando lhe perguntam qual dos cães vencia a luta, ele reflectiu e respondeu:

_ " É sempre aquele que eu mais alimento."

Monday, May 29, 2006



"Amar é a parte que me cabe neste latifúndio. Eu, amando, pago as minhas dívidas. E isto liberta-me; não me prende. Ao amar, entrego-me e portanto, liberto-me."

diz José Adragão

A caixa que a Leonor me pediu


Pudera eu, Leonor, entregar-te assim de presente
uma caixa com a coisa que mais felicidade te trouxesse!..
Ah..se eu pudesse...
...
Tenho andado a pensar. ..
Arranjar a caixa até que foi fácil...
mas e o que lá colocar?
Hmm..teria de ser a coisa mais importante para ti.
Aquilo a que dás mais valor.
E que sempre que abrisses a tampa, seguramente toda a alegria e paz interior
lá estivessem para ti, Leonor.
Pois.. mas não sei colocar isso numa caixa.
Bem tentei.. mas ..
não tive sorte!
O problema era depois o transporte!
Mas foi então que me lembrei :
olha...
consta que a felicidade pode ser cada breve momento.
Dái que ...pus várias coisitas nesta caixa...
e vou enviar-ta num dia de vento:
a saber:
1º presente: - algumas copas de pinheiros a dançar..
2º presente: - o aroma dos biscoitos de canela acabadinhos de cozer..
3º presente: - um só sorriso distraído daqueles que mais amas...
4º presente: - o toque do teu pé na areia e no mar..
5º presente: - a serenata dos grilos na relva do teu jardim..
6º presente: - o rasto de alfazema nas curvas das tuas mãos..
7º presente: - as memórias mais ternas e risonhas da avó Maria.
Leonor...meros presentes..
pequeninos instantes..
para se resgatar a alegria!
Espero que os recebas.
Espero que caibam lá no cimo do armário.
Espero que te assentem bem.
Espero que o vento aproveite e te convide para dançar...
E que aceites.. ah claro.. isso eu espero, também!! ;)
nota breve:
Um beijinho terno para a Leonor
e um abraço grande para todos os meus viajantes
aqui abrigados.
Um abraço fresquinho para abrigar do calor!

Wednesday, May 24, 2006

A vida tem segredos


Amiga/o viajante,

A vida tem alguns segredos. E não é suposto serem descobertos todos de uma só vez. Tudo a seu tempo! Muitos revelam-se por si só, inesperadamente. Alguns, vamos descobrindo sozinhos, e bastantes são os que se revelam através dos outros. Muitos só se descobrem no meio de alegrias. Outros segredos há, que apenas se encontram quando nos sentimos perdidos.
Enfim…. como são misteriosos os segredos da vida…
Escolhi um dos segredos da vida para trazer para aqui. Escrevi num pedacinho de papel e guardei-o como um tesouro, dentro desta caixa desenhada. Procura-o em caso de necessidade! Eu tenho grande certeza de que é um dos mais belos segredos, mas que facilmente tu descobres por ti, mesmo sem ter que o retirar da caixa !

Saturday, May 20, 2006

vale a pena.

Hoje presenciei uma manifestação ímpar de Fé. Uma Fé plena. Total. Uma Fé maior….. creio não poder haver.
Uma Fé indelével, inquebrantável, uma Fé de pleno Amor. Amor-Entrega. Amor - Confiança. Amor- Benignidade. Amor - Paz.
Hoje testemunhei uma manifestação de como uma Fé assim nos deixa muito pertinho de saborear a verdadeira Paz de Deus. Hoje esteve-se tão, mas tão perto Dele.. que foi possível a muitos, eu arrisco dizer, sentir uma ínfima porção de como é essa Paz. E essa ínfima porção era já tão imensa que não ouso sequer quantificar! Apenas me permito qualificar: Era muito bonita, muito confortável. Muito boa. Tão imensa ela era, que eu vos garanto: Deus estava ali.


A razão porque vos digo isto é tão somente porque vos quero dizer que vale a pena deixarmo-nos aproximar de uma Fé assim…

Wednesday, May 17, 2006

Ponho-me a pensar...



" Quando chega a noite e olho para trás, posso compreender melhor a importância de me ter levantado, ou não, àquela hora, o valor de tal visita, o impacto do que disse ou ouvi. A vida entende-se da frente para trás. Só um dia saberei bem o valor de cada passo. É preciso muito cuidado com o desânimo, pois posso chegar a desvalorizar algo em relação ao qual, um dia, mais tarde, poderei dizer: Que bom foi ter acontecido! "

Achei bom partilhar convosco estas palavras de Vasco Pinto de Magalhães, sj

Saturday, May 13, 2006





É bom andar com os pés na terra
e a cabeça nos céus..

Sunday, May 07, 2006



" Eu fecho os meus olhos para ver. "
Paul Gauguin
Experimenta agora tu, viajante.
Fecha um bocadinho os teus...e...vê !
Como sabe bem...

Wednesday, May 03, 2006

pausa para um poema...


Fosses tu Deus, seria eu santo
alimentado a areia e gafanhotos,
sem cessar meditando o único nome
que o horizonte deserto não contém.
Sonho que acordo dentro do meu sonho
para o saber mais certo e mais real;
como o místico leio nas entranhas
da ausência a tua sombra desenhada.
E no entanto és gente, sangue e terra,
corpo vulgar crescendo para a morte;
incerto no que fazes, no que sentes,
e cioso do tempo que me dás.
Porque sei que me esqueces é que lembro
Cada instante o que perco e não vem mais




António Franco Alexandre
de "Duende" , Assírio e Alvim, 2002

Wednesday, April 26, 2006

A Clave de Deus


Há ali qualquer coisa no ar que nos chama para casa.
Sente-se isso no preciso instante em que nos damos conta de que nos estamos a aproximar.
Primeiro o vale. Verde. Confiante, vaidoso, até. Aberto. Quase que se lhe adivinham dois braços em posição de acolhimento.. Isso..um vale com (a)braços..
Depois o silêncio do sossego. O barulho mudo do ar a acompanhar os passos…O silêncio a aumentar à medida que nos aproximamos. As placas a indicarem que o caminho é mesmo em frente. Taizé. Quase nem eram precisas!.. Fareja-se, fechando os olhos e abrindo o coração. Descobria-se assim muito bem o caminho! Como se sempre o soubéssemos, como se já lá tivéssemos estado. Como se fosse um regressar a casa. Um regressar a casa…
Há ali qualquer coisa no ar que nos chama para casa.
Depois o topo da colina. Encontra-se muitas pessoas. Estão todas para entrar.
Percebe-se que estão muito sintonizadas. Não nos fixamos tanto nas suas caras como nos seus corações. Noto que os corações é que caminham. Em linha, como notas musicais na pauta. Os corações lá sabem! Sabem muito bem que vão ali dentro cantar. Cantar ou rezar. Que rezar é cantar para os ouvidos de Deus.
De súbito..um som ecoa. O silêncio esconde-se agora atrás dos sinos a chamar. Entra-se.
O que se sentia do lado de fora, continua a sentir-se lá dentro. A partilha estampada nas intenções. O despojamento, a quietude, mesmo entre milhares. Não são particularmente as pessoas que se encontram. São os olhos, os motivos, os tons, as almas, os respeitos, os sorrisos. Os visíveis e os invisíveis, leia-se!
Focamos entretanto a cor avermelhada do templo, a timidez das velas, a simplicidade do momento. Há sempre alguém que se ajeita um pouquinho para nos dar algum chão onde sentar. A entrega plena dos irmãos, lá ao fundo, vestidos de branco, pode fazer-nos estremecer. A oração também! Os cânticos pegam-nos pela mão e unem-nos num bailado impar. Não somos portugueses, nem franceses, nem italianos, nem russos, nem africanos, nem…
Somos notas musicais em pauta, unidos pela mesma clave de sol. De Luz! De Amor. De Deus. Isso.. uma clave de Deus..pudera eu atribuir-lhe esse nome..

O sentimento foi muito especial. Era Sexta-feira Santa. Eu tinha o coração sintonizado.
Que mais te posso falar, AVC ?
Que estava uma noite serena no vale. E no coração. Que essa Paz se sente ainda agora.
Que é aquela Paz que se sente quando sabemos que estamos a chegar a casa.
E que há ali qualquer coisa no ar que nos chama para casa.

Friday, April 21, 2006



"Se o nosso foco de atenção for os erros das pessoas, então perderemos a calma diante da repetição do comportamento inadequado delas.
Mas se o foco de atenção forem as pessoas, em vez dos seus erros, a vida que pulsa dentro delas, começaremos a mudar a nossa atitude. Dar-lhes-emos sempre uma nova oportunidade!"
E a nós ..muita mais serenidade e, portanto, mais felicidade! - acrescento eu, a este pequeno texto que li e que vos trago para aqui!

Thursday, April 06, 2006

Viajante amigo,
bem-vindo ao porto de abrigo!
Durante uns dias-zitos estarei de férias
pelo mar alto..
e não é possivel vir cá dar um salto!
mas é possível
deixar-vos aqui
um abraço
forte e sentido!
e.. cá dentro..
levar-vos a todos comigo!
Um abraço de alegria
de amor
de paz e de fé!
E sobretudo..
um abraço
de tudo aquilo que a Páscoa é!

Monday, April 03, 2006

Verdade


A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade resplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade



E eu termino assim:

Talvez se cada um procurasse e tentasse
encontrar o belo que também há na outra metade
da outra verdade,
e então a olhasse
através dos olhos da outra pessoa..
e a aceitasse…
Ah.. que coisa verdadeiramente boa :
Talvez acabasse por passar pela porta
a verdade inteira..
E assim não veria cada um
só uma meia verdade
e apenas à sua maneira!

Wednesday, March 29, 2006


Por vezes...
"o ego é um iceberg.
Derreta-o!
Derreta-o com amor profundo!"

(li eu, algures.)


Saturday, March 25, 2006

O Pássaro da Alma


"No fundo, bem lá no fundo do corpo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
mas todos sabem que existe.
E não só sabem que existe,
como também sabem o que lá tem dentro.
Dentro da alma, lá bem no centro,
pousado numa pata, está um pássaro.
E o nome desse pássaro é o Pássaro da Alma.
E ele sente tudo o que nós sentimos :

Quando alguém nos magoa,
o pássaro da alma agita-se para lá e para cá
em todos os sentidos dentro do nosso corpo, sofre muito.
Quando alguém nos ama,
o pássaro da alma dá pulinhos de contente,
para trás e para a frente, vai e vem.
Quando alguém nos chama,
o pássaro da alma põe-se logo à escuta da voz
a fim de reconhecer que tipo de apelo é.
Quando alguém se zanga connosco,
o pássaro da alma recolhe-se
dentro de si ,tristonho e silencioso.
E quando alguém nos abraça, o pássaro da alma
que mora no fundo, bem lá no fundo do nosso corpo,
começa a crescer, crescer,
até encher quase todo o espaço dentro de nós,
tão bom para ele é o abraço.

Dentro do corpo, no fundo, bem lá no fundo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
mas todos sabem que ela existe.
E ainda nunca, nunca veio ao mundo alguém
que não tivesse alma.
Porque a alma entra dentro de nós no momento em que nascemos
e não nos larga
- Nem uma só vez –
até ao fim da vida.
Como o ar que o homem respira
desde a hora em que nasce até à hora em que morre.
Decerto querem também saber de que é feito o pássaro da alma.
Ah, isso é mesmo muito fácil :
É feito de gavetas e mais gavetas.
Mas não podemos abrir as gavetas de qualquer maneira,
pois cada uma delas tem uma chave para ela só!
E o pássaro da alma
é o único capaz de abrir as gavetas dele.
Como ?
Pois isso também é muito simples :
Com a segunda pata.

O pássaro da alma está pousado numa pata,
e com a outra – que em descanso está dobrada sob a barriga –
roda a chave da gaveta que quer abrir,
puxa pelo puxador, e tudo o que está dentro dela
sai em liberdade para dentro do corpo.

E como tudo o que sentimos tem uma gaveta,
o pássaro da alma tem imensas gavetas.
A gaveta da alegria e a gaveta da tristeza.
A gaveta da inveja e a gaveta da esperança.
A gaveta da desilusão e a gaveta do desespero.
A gaveta da paciência e a gaveta do desassossego.
E mais a gaveta do ódio, a gaveta da cólera e a gaveta do mimo.
A gaveta da preguiça e a gaveta do vazio.
E a gaveta dos segredos mais escondidos,
uma gaveta que quase nunca abrimos.
E há mais gavetas.
Vocês podem juntar todas as que quiserem.

Às vezes uma pessoa pode escolher e indicar ao pássaro
as chaves a rodar e as gavetas a abrir.
E outras vezes é o pássaro quem decide.
Por exemplo: a pessoa quer estar calada e diz ao pássaro para abrir
a gaveta do silêncio. Mas ele, por auto-recriação,
Abre-lhe a gaveta da fala,
E ela desata a falar, a falar sem querer.
Outro exemplo: a pessoa quer escutar pacientemente
- e em vez disso ele abre-lhe a gaveta do desassossego
que faz com que ela se enerve.
E acontece que a pessoa tenha ciúmes sem qualquer motivo.
E que estrague justamente quando mais quer ajudar.
Porque o pássaro da alma nem sempre é disciplinado
e às vezes dá-lhe trabalhos...

Agora já compreendemos que cada homem
é diferente do seu semelhante
por causa do pássaro da alma que tem dentro de si.
O pássaro que em certas manhãs abre a gaveta da alegria,
e a alegria jorra para dentro do corpo e o dono dele fica feliz.
E quando o pássaro lhe abre a gaveta da raiva,
a raiva escorre de dentro dela e domina-o totalmente.
Até que o pássaro volte a fechar a gaveta
ele não pára de se zangar.
E quando o pássaro está de mau humor
abre gavetas que dão mal-estar.
E quando o pássaro está de bom humor
escolhe gavetas que fazem bem.

E o mais importante – é escutar logo o pássaro.
Pois acontece o pássaro da alma chamar por nós, e nós não o ouvirmos.
É pena. Ele quer falar-nos de nós próprios.
Quer falar-nos dos sentimentos que estão encerrados nas gavetas dentro de nós.

Há quem o ouça muitas vezes.
Há quem o ouça raras vezes,
E há quem o ouça
Uma única vez na vida.

Por isso vale a pena
talvez tarde pela noite, quando o silêncio nos rodeia,
escutar o pássaro da alma que mora dentro de nós,
no fundo, lá bem no fundo do corpo. "
Michal Snunit

Wednesday, March 22, 2006

Boa entrada...

Meus queridos viajantes...
desejo-vos
uma boa entrada
nas maravilhosas cores da Primavera!