Wednesday, March 29, 2006


Por vezes...
"o ego é um iceberg.
Derreta-o!
Derreta-o com amor profundo!"

(li eu, algures.)


Saturday, March 25, 2006

O Pássaro da Alma


"No fundo, bem lá no fundo do corpo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
mas todos sabem que existe.
E não só sabem que existe,
como também sabem o que lá tem dentro.
Dentro da alma, lá bem no centro,
pousado numa pata, está um pássaro.
E o nome desse pássaro é o Pássaro da Alma.
E ele sente tudo o que nós sentimos :

Quando alguém nos magoa,
o pássaro da alma agita-se para lá e para cá
em todos os sentidos dentro do nosso corpo, sofre muito.
Quando alguém nos ama,
o pássaro da alma dá pulinhos de contente,
para trás e para a frente, vai e vem.
Quando alguém nos chama,
o pássaro da alma põe-se logo à escuta da voz
a fim de reconhecer que tipo de apelo é.
Quando alguém se zanga connosco,
o pássaro da alma recolhe-se
dentro de si ,tristonho e silencioso.
E quando alguém nos abraça, o pássaro da alma
que mora no fundo, bem lá no fundo do nosso corpo,
começa a crescer, crescer,
até encher quase todo o espaço dentro de nós,
tão bom para ele é o abraço.

Dentro do corpo, no fundo, bem lá no fundo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
mas todos sabem que ela existe.
E ainda nunca, nunca veio ao mundo alguém
que não tivesse alma.
Porque a alma entra dentro de nós no momento em que nascemos
e não nos larga
- Nem uma só vez –
até ao fim da vida.
Como o ar que o homem respira
desde a hora em que nasce até à hora em que morre.
Decerto querem também saber de que é feito o pássaro da alma.
Ah, isso é mesmo muito fácil :
É feito de gavetas e mais gavetas.
Mas não podemos abrir as gavetas de qualquer maneira,
pois cada uma delas tem uma chave para ela só!
E o pássaro da alma
é o único capaz de abrir as gavetas dele.
Como ?
Pois isso também é muito simples :
Com a segunda pata.

O pássaro da alma está pousado numa pata,
e com a outra – que em descanso está dobrada sob a barriga –
roda a chave da gaveta que quer abrir,
puxa pelo puxador, e tudo o que está dentro dela
sai em liberdade para dentro do corpo.

E como tudo o que sentimos tem uma gaveta,
o pássaro da alma tem imensas gavetas.
A gaveta da alegria e a gaveta da tristeza.
A gaveta da inveja e a gaveta da esperança.
A gaveta da desilusão e a gaveta do desespero.
A gaveta da paciência e a gaveta do desassossego.
E mais a gaveta do ódio, a gaveta da cólera e a gaveta do mimo.
A gaveta da preguiça e a gaveta do vazio.
E a gaveta dos segredos mais escondidos,
uma gaveta que quase nunca abrimos.
E há mais gavetas.
Vocês podem juntar todas as que quiserem.

Às vezes uma pessoa pode escolher e indicar ao pássaro
as chaves a rodar e as gavetas a abrir.
E outras vezes é o pássaro quem decide.
Por exemplo: a pessoa quer estar calada e diz ao pássaro para abrir
a gaveta do silêncio. Mas ele, por auto-recriação,
Abre-lhe a gaveta da fala,
E ela desata a falar, a falar sem querer.
Outro exemplo: a pessoa quer escutar pacientemente
- e em vez disso ele abre-lhe a gaveta do desassossego
que faz com que ela se enerve.
E acontece que a pessoa tenha ciúmes sem qualquer motivo.
E que estrague justamente quando mais quer ajudar.
Porque o pássaro da alma nem sempre é disciplinado
e às vezes dá-lhe trabalhos...

Agora já compreendemos que cada homem
é diferente do seu semelhante
por causa do pássaro da alma que tem dentro de si.
O pássaro que em certas manhãs abre a gaveta da alegria,
e a alegria jorra para dentro do corpo e o dono dele fica feliz.
E quando o pássaro lhe abre a gaveta da raiva,
a raiva escorre de dentro dela e domina-o totalmente.
Até que o pássaro volte a fechar a gaveta
ele não pára de se zangar.
E quando o pássaro está de mau humor
abre gavetas que dão mal-estar.
E quando o pássaro está de bom humor
escolhe gavetas que fazem bem.

E o mais importante – é escutar logo o pássaro.
Pois acontece o pássaro da alma chamar por nós, e nós não o ouvirmos.
É pena. Ele quer falar-nos de nós próprios.
Quer falar-nos dos sentimentos que estão encerrados nas gavetas dentro de nós.

Há quem o ouça muitas vezes.
Há quem o ouça raras vezes,
E há quem o ouça
Uma única vez na vida.

Por isso vale a pena
talvez tarde pela noite, quando o silêncio nos rodeia,
escutar o pássaro da alma que mora dentro de nós,
no fundo, lá bem no fundo do corpo. "
Michal Snunit

Wednesday, March 22, 2006

Boa entrada...

Meus queridos viajantes...
desejo-vos
uma boa entrada
nas maravilhosas cores da Primavera!

Tuesday, March 21, 2006

O meu olhar tristito de hoje deve-se à falta
que fará por aqui o Zé Beirão...
Em boa verdade, eu nem conheço o Zé Beirão.
Não o conheço..mas sinto-o.
E... questiono-me (vos)...
Qual a diferença entre
"CONHECER UMA PESSOA" e "SENTIR UMA PESSOA" ?
Eu, por exemplo, depois de navegar pensamentos,
posso adiantar-vos uma das diferenças:
É que quando "SENTIMOS UMA PESSOA",
podemos simplesmente pensar nela e dizer-lhe:
"Viver é muito fácil,
porque meço a partir de ti o norte e o sul.
Basta que existas
para que os meredianos se arrumem
e os oceanos não transbordem..
______________________
Volta com as tuas histórias... Zé Beirão..

deixa que elas voltem

de novo

a ser vento de orientação...


Thursday, March 16, 2006

E nós?

Na Índia, país de muitos mistérios, dois homens começaram a conversar e descobriram que haviam passado por experiências muito semelhantes. Ambos tinham morrido e voltado à vida novamente.
O primeiro, ao morrer, foi parar ao inferno e começou a descrever o que viu por lá: "-Era um grande salão. No centro havia uma mesa enorme posta para um banquete. Sobre ela havia as mais incríveis iguarias que se possa imaginar. Em volta da mesa os convidados, famintos, estavam muito, mas muito tristes, porque, apesar da comida farta e da fome que sentiam, não se podiam alimentar. Os seus cotovelos eram virados e, portanto, não conseguiam levar a comida à boca.”
O segundo homem que, ao morrer, havia ido para o céu, ouviu o relato do primeiro e, admirado, disse: “- Mas que interessante! No céu havia também um salão enorme, com uma mesa farta em iguarias como nunca se viu antes, e o curioso é que também lá os convidados tinham os cotovelos virados, mas estavam todos felizes e satisfeitos, comendo, conversando e rindo.”
Ao ouvir isso, o que estivera no inferno, surpreendido perguntou:
“- Mas como assim, então? Se eles tinham os cotovelos virados...???”
E o outro respondeu: “- É que lá, um alimentava o outro...”
desconheço infelizmente o autor.

....................................................
E nós?
Alimentamo-nos uns aos outros?

Saturday, March 11, 2006

A Quaresma das árvores...


Quem já viu ou podou ele próprio uma macieira sabe muito bem.
A árvore foi vivendo ao longo dos meses. Os vários ramos seguiram, cada um, os seus contornos no ar, desenhando as formas próprias e inequívocas de uma árvore. Umas vezes, rebentos desses ramos afoitamente se desviaram do ramo principal, seguindo diversas direcções. Fazendo outros desenhos. Outras vezes, a árvore obedeceu apenas a alguns galhitos centrais , sem grandes ramificações, portanto.
A seu tempo vieram-lhe as folhas. A árvore vestiu-se. Nas épocas próprias, enfeitou-se de frutos. Delirou. Tão envaidecida esta árvore, olhando para si própria! Que linda…. Uma macieira vestida de verde e maquilhada com as cores várias dos seus frutos.
Nas provocações do clima, ressentiu-se. Por vezes perdeu tudo. Folhas e maçãs! Às vezes uma praga ou um solo menos altruísta. Tentou aguentar-se. Como pôde, claro! Com algum azar, a árvore fez cicatrizes. Um ramo esgalhado pela bola perdida da criança, o tronco arranhado pela garra do gato atrevido. Tantas as adversidades..
Mas a macieira sabe. E se não se lembra, o jardineiro avisa-a. .Ambos sabem da época da poda. Da transformação, entenda-se! A cada corte, vai-se despindo deste galho. E daquele outro. E de mais aquele, ali na ponta. Corta-se. Este aqui, também. Isso! Pronto. Agora já está renovada.
Assim, à primeira vista, pensa-se que perdeu tudo. Que não ganhou nada! Mas quem já viu ou já podou ele próprio uma macieira, sabe…
Sabe muito bem que a macieira se despiu dos seus ramos mais enfraquecidos, para agora, mais leve e centrada, se fortalecer. E preparar-se para a nova época que a aguarda. Focar-se de novo nas suas raízes mais profundas, das quais jamais se afastará, buscar nelas o alimento que precisa e re-nascer. Mais forte, leia-se. Para, no novo ano adentro, voltar a engalanar-se de verde e de maçãs coloridas. Renascida e revigorada, a macieira sabe que precisou passar por este processo.
E quem já viu ou ele próprio podou uma macieira, também sabe. Sabe muito bem o que eu quero dizer. Sabe o que se passa na “Quaresma das árvores”! E tanto mais sabe, quanto mais experimentar também este processo de renovação!

Wednesday, March 08, 2006

Nem todos os que correm atrás dela,
apanham a gazela;
mas os que a apanharam, correram atrás dela!"
dito Sufi nematollahi, (refere-se à Verdade, à Realização Espiritual)

__________

E eu lanço aqui o repto, meus queridos viajantes:

Força!

Neste tempo de conversão, centrados no Bem,

foquemos aquele nosso objectivo

e tentemos correr atrás dele!


Thursday, March 02, 2006

O Caminho

Tenho para mim que toda a nossa vida é um caminho.
Isso, como se de uma estrada se tratasse. E tantas as estradas, quantas as pessoas. Há estradas mais largas, estradas de horizontes tamanho XL que dão espaço a muitas coisas, que dão espaço aos outros, que SÃO espaço para os outros peregrinos que se vão cruzando connosco no percurso. Depois há outras mais estreitas, onde quase só nós cabemos, e onde todo o resto se tem de ir apertando e afunilando à medida das nossas vontades.
E há percursos que ora são assim mais largos ou mais estreitos, dependendo de um determinado ponto da estrada, quer dizer, de uma fase da vida. Tipo…ao quilómetro X..a estrada vai alargar ou vai estreitar..provisoriamente, leia-se. Para obras, por exemplo. Externas ou internas!
E há também caminhos mais fáceis do que outros. Há deles mais bonitos, com menos buracos, menos sobressaltos, outros com árvores mais elegantes ou que simplesmente nos dão mais sombra.. enfim..tantas as variações, quantas as estradas…

Mas há um denominador comum entre todas as estradas. Todas. Todas elas são, invariavelmente, um caminho. UM CAMINHO PARA……
Hmm…questiono-me. Mas prefiro ficar por aqui. Creio que o completar dessa frase cabe a cada um dos caminhantes. E talvez essa resposta se encontre, eu diria, pelo caminho. Ao longo dele. Por isso ele nos é dado e é tão importante.
Mas adianto:
Se nos concentrarmos nas incontáveis diferenças que existem em todas as nossas estradas, para onde nos levam tantos e tão variados caminhos?
E se focarmos apenas as semelhanças, encontrar-nos-emos todos afinal à chegada?

Onde quer que cheguemos, cada vez MAIS tenho MENOS dúvidas de que o objectivo não reside na meta. Reside no percurso em si.
E se assim for, talvez nos ajude pensar que a meta está, afinal, em cada passo que damos, cada buraco da estrada, cada poça de água que pisamos ou que felizmente contornamos, cada rajada de vento frio, cada brisa fresca reconfortante, cada caminheiro que nos aborda, cada outro peregrino que apoiamos.
É por isso que me atrevo a dizer-te: há que ir fazendo o caminho, e, de preferência, dando atenção aos detalhes, ao que no rodeia. Parar de vez em quando para sentar e resgatar as forças. Aquelas que existem dentro de nós. E depois reerguer, continuar. É a caminhar que se faz o caminho! E a meta, tal como as forças, eu creio, essa também está no interior de quem o faz!